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Escolas-oficinasA Arte da Violaria
"E de repente, sem darmos por isso, acontece um milagre". As palavras são de Helder Pacheco [apresentação da exposição
«A Arte da Violaria», patente no CRAT, do Porto, até 10 de Janeiro] e remetem para a circunstância de, ao menos aparentemente,
a arte da construção de instrumentos de corda estar a renascer no miolo do Centro Histórico do Porto, mais concretamente no
popular bairro da Sé. Um 'renascimento' que resulta de uma proposta da Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica
do Porto no âmbito do programa "Escolas-Oficinas", do Instituto de Emprego e Formação Profissional - ao longo de um ano, meia-dúzia
de formandos frequentaram com aproveitamento um curso de construção de instrumentos de corda, e os resultados podem, agora,
ser apreciados no Centro Regional de Artes Tradicionais (CRAT). Em sentido lato, a acção tinha como objectivos a revitalização
de uma tradição em declínio no Centro Histórico do Porto, a criação de novas saídas profissionais para desempregados ou jovens
à procura do primeiro emprego, a disponibilização (aos profissionais da música) de uma oferta mais abundante e de qualidade,
bem como a dinamização do tecido económico do velho burgo portuense. Por outro lado, e de acordo com os responsáveis pela
iniciativa, o curso foi promovido com a preocupação de aliar à formação prática uma forte componente teórica que explorasse
outros saberes, designadamente a afinação e a história dos instrumentos, a acústica e o desenho técnico, o solfejo e teoria
musical. Nesta perspectiva, a mobilização de recursos humanos passou pela colaboração de um experimentado e competente
construtor local (António Luciano, ou Toni das Violas), de músicos (Alfredo Teixeira e Fernando Leandro) e técnicos de desenho
(João Duque) e de higiene e segurança no trabalho (Paula Freitas). "Esta acção atingiu os objectivos propostos", concluem
os responsáveis pela iniciativa, chamando a tenção para a diversidade e qualidade dos instrumentos construídos. Falta saber
se "a mesma sociedade que formou os novos artistas das artes antigas saberá integra-los no exercício do mester para qual alguns
revelam aptidões", como se interroga Helder Pacheco antes de concluir que, "depois deste retorno à Sé, tão inesperado quanto
auspicioso, do ofício-arte de construir as máquinas mágicas dos sons, falta que a música regresse. A música, quero dizer,
a alegria, a vizinhança, a convivência, o calor da solidariedade. O espírito da gente - que é, afinal, o espírito da cidade". |
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